O SW TMN 2012 corre a passos largos para o final. O dia 4 de agosto foi dissonante no que diz respeito à qualidade dos concertos. Houve do melhor e do pior. The Ting Tings, Xutos e Pontapés e The Roots foram algumas das principais atrações do Palco TMN. Numa noite fria e, no geral, pouco concorrida em termos de público, os The Roots foram mesmo o principal destaque.
Para além da música, a praia tem ocupado as tardes na Zambujeira do Mar. A pequena vila tem-se enchido de vida e fulgor com a passagem dos milhares de festivaleiros pelas ruas antes desertas. A fraca afluência de audiência a alguns concertos acaba também por se justificar pelas saídas tardias da praia: no regresso ao parque de campismo, há muitos que privilegiam a cerveja e os couratos, as cartas e os duches prolongados.
Às nove da noite em ponto, The Ting Tings abriram com a interpretação de Great DJ. Bem sabemos que gregos e troianos não podem ser simultaneamente agradados. Durante a atuação do dueto britânico, houve quem se empolgasse e estivesse de olhos colados no palco. Por outro lado, viram-se muitos braços cruzados, bocejos e até mesmo toalhas deitadas ao chão. Sensivelmente ao fim das primeiras três músicas, houve quem peremtoriamente abandonasse o recinto do palco com um rosto visivelmente incrédulo. Os The Ting Tings não perceberam o significado de conta, peso e medida, tendo feito um uso exagerado de loops e do playback. Faltou capacidade de improviso, de emancipação da máquina tecnológica e, acima de tudo, modéstia. Várias foram as vezes que os assistentes de palco foram obrigados a apanhar o microfone que Katie White insistia em atirar ao chão, sem razão aparente. Para cúmulo, Katie White achou por bem roubar a ideia de Eddie Vedder e trouxe cábulas para o palco, repetindo na íntegra algumas das palavras que o americano havia proferido no dia anterior. Foi uma prestação completamente despropositada e sem nexo, que nem mesmo o single That´s Not My Name salvou. Mais uma amostra de estrelato do que propriamente um concerto.
Seguiram-se os Xutos e Pontapés. Este era um concerto aguardado por muitos, que não esconderam o seu apreço pela banda, envergando t-shirts e lenços em sua homenagem. As primeiras músicas, pertencentes ao álbum Cerco, tiveram pouca adesão por parte dos presentes. O Homem do Leme foi o primeiro momento de partilha quase total no público. Com o decorrer do concerto vieram os moshs, e com estes o cheiro a cavalo e a contestação por parte dos mais sossegados. O mosh ganhou total sentido quando se ouviu das colunas o Jogo do Empurra. Vossa Excelência (dos brasileiros Titãs) , com uma letra carregada de indignação, varreu o pudor das línguas da plateia. Chuva Dissolvente, Perfeito Vazio e Tonto (com participação especial de Kalu), originaram alguns dos momentos mais bem-aventurados do concerto. A bandeira portuguesa foi erguida ao cimo do mastro, já que algumas vozes não se contiveram e entoaram – ainda que timidamente – o hino nacional. Perto do fim, cantou-se “E salta Tim e salta Tim alezz”. O vocalista, bem disposto e com alguma comoção, cumpriu e pediu também que se saltasse do lado de cá. Todo o pé saiu do chão. No público pedia-se “só mais uma”. Não houve tempo para mais.
The Roots subiram ao palco às 00:30h, repletos de energia. O termómetro começava a subir. A banda que faz as honras da casa no programa Late Night with Jimmy Fallon trouxe uma orquestra variadíssima, no meio da qual não faltaram solos de praticamente todos os instrumentistas. O dono da tuba foi um dos que esteve em destaque, com um fôlego invejável. No inventário musical estiveram contemplados tanto temas originais como covers. Entre os originais, de salientar How I Got Over e You Got Me. Já Sweet Child O´Mine e Jungle Boogie foram alguns dos covers reproduzidos. Em cima do palco, os saltos e a desinibição foram uma constância. Se, por um lado, estes senhores nos trazem uma música que nem sempre é fácil de ensinar ao ouvido e de guardar na memória, por outro, deixam-nos perplexos ao observar a hegemonia técnica e teórica, quando fazem praticamente aquilo que querem das vozes e dos instrumentos. Foi uma lição de groove e swing que durou uma hora e meia. Oxalá fosse tão fácil como ver e repetir! Por detrás, estiveram muitas horas de ensaio, já para não falar da bagagem musical (atenção que já são dez álbuns!) que está implícita e que certamente já vem de idades tenras. Mesmo para aqueles que não se identificam com o estilo emaranhado de hip hop e soul, arrisco-me a dizer que é impossível não ter gostado de um concerto destes, onde a entrega à música foi exuberante. Exuberante foi também a capacidade demonstrada para tocar durante a tal uma hora e meia sem que houvesse tempos mortos e silenciosos: foi um concerto que mais pareceu uma música. Fizeram-nos criar raízes.
A noite acabou em grande com Gorillaz Sound System e o primeiro crowdsurfing da parte dos artistas no palco principal.
Fotografias por Raquel Cordeiro / SAPO On The Hop