O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.
1604905_656777471027991_1881813823_n

Deus quer, os You Can’t Win, Charlie Brown sonham, Diffraction/Refraction nasce

Já tinha ficado provado que os YCWCB (You Can’t Win, Charlie Brown) não iam ao tapete por causa duma casca de banana, mesmo que se tratasse duma banana fora-de-série, como acontece com The Velvet Underground & Nico. E, mesmo em 2011, quando nos trouxeram o seu primeiro longa-duração, Chromatic, tivemos garantias de que dominavam a paleta musical, que eles próprios se podem gabar de ter inaugurado. Depois disto, se calhar, muitos já esfregavam as mãos enquanto vaticinavam o tão popular “à terceira é de vez”. A todos esses, quero relembrar a existência de um outro chavão: “não há duas sem três”.

Diffraction/Refraction não é o típico segundo álbum que fica aquém do de estreia; não é a típica travessia do deserto nem a licença sabática de criatividade; Diffraction/Refraction é a terceira casca de banana no caminho dos YCWCB e, muito provavelmente, a menos escorregadiça. Decididamente, nada pode vencer estes tipos. Por isso, juntemo-nos a eles.

O segundo álbum do sexteto português revela, acima de tudo, o seu diagnóstico enquanto vassalos da excelência. Não sou médico, mas parece-me óbvio que este paciente sofre de TOC (Transtorno obsessivo-compulsivo). Digo-o com base nos seguintes sintomas: cisma com a perfeição e com a simetria musicais, reverência à versatilidade rítmica e mania do equilíbrio de suaves e fortes, de silêncios e energias. Diffraction/Refraction é um truque de magia que envolve simplicidade e experimentalismo, forjando-se um folk inovador através da força electrónica dos sintetizadores. A guitarra está presente quase sempre, mas quase nunca audível. Curiosamente, é numa das faixas que mais se sente a sua presença que encontramos o melhor momento deste álbum: I Wanna Be Your Fog é tão afável quanto o timbre de Afonso Cabral e sintetiza bem o núcleo de YCWCB.

ycwcb-diffraction-refraction

Diffraction/Refraction é uma cartada alta destes rapazes. Puseram, como diria o mister Jesus, a carne toda no assador. Bem ao estilo de Blimunda Sete-Luas, os YCWCB conseguiram ver por dentro de nós e perceber que estavam reunidas as vontades para a construção desta passarola musical. A autenticidade deste éter é tanta que se produzem momentos sublimes quase sem qualquer esforço, como é o caso da transição de After December para Fall For You. Este é um disco pensado e construído sob a égide da minúcia e do floreado, a avaliar, desde logo, pela forma como as harmonias vocais são acasaladas e não se desviam um milímetro que seja da sua rota. Mas este não é um floreado qualquer. Não é enjoativo, supérfluo ou bazófio. É um floreado que resulta do cruzamento das experiências díspares dos seis membros da banda e que transparece, por exemplo, em Natural Habitat, habitáculo onde todos coexistem pacificamente. No fundo, é um floreado que acrescenta, verdadeiramente, algo à sonoridade de YCWCB e que não existe apenas “porque sim”.

De facto, é uma tarefa difícil, a de encontrar pontos fracos em Diffraction/Refraction. Com um álbum feito quase com régua e esquadro, a dúvida que paira é se, tendo-se superado Chromatic e subido tanto a fasquia, vai ser possível surpreender daqui em diante.

Nota final: 9.0/10