Mal ouvi dizer que Borgen ia estrear no canal 2 fiquei com curiosidade para ver. Não resisto a um drama político. Não aguentei até à estreia e vi três episódios numa tarde. Como gosto de partilhar as coisas boas da vida e acho que o horário nobre da TV generalista pode ser mais que um concurso de telenovelas, deixo-vos 10 razões para se juntarem a mim no fandom da nova coqueluche da estação pública.
1 – É feita na Dinamarca
Eu sei que não parece grande razão, mas pensem quando disserem aos vossos amigos que vêem “uma série dinamarquesa”. Isso vai soar bem, vocês sabem que sim. É culto ver produções europeias. E com um bónus: esta não é chata.
2 – Ajuda-nos a acreditar na política
Não é que eu não adore os esquemas e reviravoltas loucos de House of Cards, mas quero acreditar que a política se faz mais de pequenos esforços do que de grandes golpes. Borgen é mais quotidiana, mais familiar e mais idealista, mas não deixa de ser sofisticada. Além disso, mostra alguém que luta por um mundo melhor, por mudanças possíveis, mais do que lutar pela sua própria carreira política. Tem personagens com sentimentos, mas não é por isso que deixa de dar uma perspetiva real sobre as jogadas de bastidores que fazem parte da democracia.
3 – É sobre uma mulher
Contrariamente ao que é habitual nas séries políticas, esta é sobre a primeira mulher primeira-ministra da Dinamarca, Birgitte Nyborg (Sidse Babett Knudsen). E essa é uma visão do poder que pode ser bem mais interessante do que o olhar masculino e bélico que atualmente temos sobre ele.
4 – Vai ser transmitida diariamente
É terrível lidar com uma semana de intervalo quando queremos saber o que se vai passar a seguir. E sabemos bem como é impossível ter de aguentar os insuportáveis hiatos da televisão norte-americana. Com Borgen na RTP2, isso não vai ser problema: a série vai ser transmitida de segunda a sexta-feira.
5 – Em horário nobre
Para mais de 70% do público televisivo português, os horários de transmissão são uma realidade do passado, graças às tecnologias de DVR, rewind tv e time shift das várias operadoras de televisão por cabo. No entanto, ainda há 30% sem acesso a esse maravilhoso mundo novo. Além do mais – não há nada como ver algo à moda antiga, na sua hora de emissão. Borgen vai ser emitida em pleno horário nobre, às 22h00 em ponto.
6 – Sem intervalos publicitários
Em horário nobre e… sem anúncios a interromper. Uma das poucas vantagens trazidas à RTP2 por não ter publicidade comercial é essa mesma. Os programas não são interrompidos durante 15 minutos ou mais (hello, TVI!) para faturação da estação que os emite. E mesmo que vejas gravado não vais ter de andar a puxar para trás e para a frente quando começa e acaba o intervalo.
7 – É um ficção que produziu mudanças políticas reais
Leis sobre as condições de vida dos animais e direitos dos trabalhadores sexuais foram aprovadas depois da abordagem desses problemas na série. O Guardian considerou-a um dos 10 programas de televisão mais controversos de sempre, tendo sido realçado o impacto positivo que teve na política dinamarquesa.
8 – Feita de gente como nós
Uma das coisas mais estimulantes para quem gosta de ficção televisiva é encontrar, na caixinha mágica, personagens com que nos identificamos e que assumimos como verosímeis e realistas. Borgen está cheia destas personagens com vida humana e a interpretação do elenco é essencial para que isso aconteça. Neste parágrafo enuncio Sidse Babett Knudsen, que encarna de forma exímia Birgitte, uma líder política que é também uma mãe e uma esposa. E estas duas dimensões nem sempre se separam claramente – é aqui que reside a singularidade deste trabalho.
9 – Excelente banda sonora
O trabalho de Halfdan E na composição dos temas originais da série não fica nada atrás daquilo a que estamos habituados com as séries americanas ou britânicas. A construção das tensões necessárias e o alicerçar das emoções que vivemos nesta experiência televisiva deve-se, em grande parte, ao soberbo trabalho feito no casamento entre as imagens e o som.
10 – Ao vê-la, premiamos a qualidade e a ousadia
Transmitir uma série dinamarquesa em horário nobre mantendo como objetivo ter 4% de quota de mercado no final do primeiro trimestre do próximo ano foi corajoso por parte da direção de programas da RTP2. No entanto, é para isso que ela existe, para transmitir televisão bem feita, fazer escolhas arriscadas e contrariar as lógicas monoculturais das outras estações.
Ao optarmos por ver uma obra internacional bem produzida e intelectualmente estimulante estamos a dar um sinal de rejeição ao mindset pimba que tem sido hegemónico e à demasiado padronizada e preguiçosa indústria das telenovelas.
Vamos ser simples e diretos: Borgen é televisão da boa, a RTP2 existe enquanto houver público para ela e esta é uma série que contribui para nos tornar cidadãos europeus mais informados. Nos tempos que correm, isso não é coisa que nos possamos dar ao luxo de desperdiçar.