O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.
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Vodafone Paredes de Coura: tudo entregue à bicharada

A segunda noite do Vodafone Paredes de Coura confirmou a maior enchente de sempre do festival com o público a ser domado pelas feras The Legendary Tigerman e Tame Impala. Mas também houve missa (muito bem) cantada por Father John Misty.

Correu dengosa a tarde calorenta à beira do Taboão. Entre mergulhos, malabarismos, sestas e leituras, as energias foram sendo repostas para a grande noite. Os Tame Impala, claramente responsáveis pela maior afluência de sempre ao Paredes de Coura tomariam conta do anfiteatro natural lá mais para a meia noite. Mas antes deles, alguns dos seus membros haveriam de fazer o aquecimento no Palco Vodafone.FM.

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Foi pelas 19h que a banda que vai partilhando elementos com os Tame Impala pôs a tenda a rebentar pelas costuras. Aliás, o aglomerado que se juntou para ver os Pond estendia-se até à zona de circulação para a área de refeições, coisa normalmente só vista nas vezes em que, na primeira noite do Paredes de Coura, funcionava apenas esse palco “secundário”. Os australianos puxaram imediatamente ao mosh e ao crowdsurf, caíram no fosso de seguranças que nem tordos e o início da noite começava suado. O glam rock e a psicadelia de Elvi’s Flaming Star, Outside is the Right Side ou a música que dá nome ao disco Man, It Feels Like Space Again foram alguns dos momentos altos.

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Entretanto, no palco principal, Steve Gunn, que durante a tarde tocara numa music session exclusiva no Museu Regional da vila, encantava a multidão sentada no anfiteatro com os temas delicodoces de Seasonal Hire, editado este ano. Qual enfant terrible dado ao bucolismo, serviu de excelente aperitivo para a pregação que Father John Misty daí a pouco haveria de fazer.

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De volta ao Palco Vodafone.FM, os White Fence prometiam mais uma injeção de pop rock psicadélico mas o concerto fez-se muitas rotações abaixo do que aquilo que já viramos com Pond e iríamos repetir com os Tame Impala. Apesar do interessante disco For The Recently Found Innocent, não deixaram marca.

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E eis que chegava a hora da pregação. Ainda antes de Father John Misty entrar em palco, Jet’aime Moi Non Plus (o tema mais sensual de sempre?) avisava para os níveis de sensualidade a que J. Tillman iria levar a esgotada plateia de Coura. E digamos que a entrada foi “a pés juntos”, logo com I Love You, Honeybear, tema homómimo do segundo disco de originais do baterista dos Fleet Foxes. O homem gingou, esbracejou, pregou, deitou-se, ajoelhou-se e à primeira música tinha toda a gente rendida.

Com um ritmo alternado entre temas mais delicodoces (Strange Encounter), outros que apelam a instintos mais vorazes (Only Son of a Ladies Man), ou até o irónico momento de isqueiros e velas acesas em telemóveis (em Bored in USA) Father John Misty, com o diabo no corpo e o evangelho na ponta da língua, marcou definitivamente esta edição do Vodafone Paredes de Coura.

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No mesmo palco, The Legendary Tigerman teve honras de tocar para casa cheia e fez jus ao privilégio que lhe foi concedido. Longe da solidão de outrora, teve em palco músicos suporte (Paulo Segadães na bateria e João Cabrita no saxofone) que contribuíram para que os seus temas surgissem mais “cheios”, à medida do público que vibrou com o homem-tigre. Do blues rock ao puro rock n’roll estava a bicharada libertada para o momento que se seguia.

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E é que não cabia nem mais uma mosca. Enquanto os técnicos dos Tame Impala, vestidos de bata branca, preparavam o palco para a viagem com os australianos, a massa humana foi-se apertando para mostrar a Kevin Parker que o público português vem acompanhando e reconhecendo a extraordinária carreira que o músico australiano tem feito desde Innerspeaker. Tímido ao início, honestamente agradecido no final, abandonou o palco de Coura tão feliz quanto os que ali dançaram com ele e a sua banda.

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Foi com Let it Happen que começou a viagem até Currents, disco que andam a apresentar, e cuja tour europeia iniciou precisamente ontem à noite em Coura. Oito minutos dançáveis, com projeções psicadélicas a condizer, um jogo de luzes envolvente e aquele mar de gente num transe comum saudável. Se na noite anterior tínhamos receado pela segurança, no fim do segundo tema, Mind Mischief, Parker alertou para que cuidássemos uns dos outros, e a euforia coletiva fez-se de forma ordeira e respeitosa. Why Won’t They Talk to Me?, The Moment e It Is Not Meant to Be antecederam um dos pontos altos da noite com o forte single Elephant e acabou tudo em bem. Coura voltava a ser Coura. 11922872_998847096803911_958575578880889280_o

Não faltaram também outras “malhas” de Lonerism e Feels Like We Only Go Backwards, a pedido do conversador Parker, foi cantada em uníssono. Já chegando ao fim, Apocalypse Dreams convocou uma viagem um pouco mais além e tudo parecia ser de facto como um sonho, uma vivência pessoal e única. Mas nem banda nem público quis que a noite acabasse, e ao contrário do que têm feito noutros concertos, os Tame Impala regressaram para então nos chamar ao real com Nothing That Has Happened So Far Has Been Anything We Could Control.

Charles Bradley e War On Drugs são os principais nomes da noite de hoje.

Fotos de Cátia Duarte Silva