O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.
EUROVISÃO 2014 DENMARK

E se os melhores artistas europeus fossem à Eurovisão? (I)

Apesar de se autoproclamar como o “programa televisivo preferido da Europa”, o Festival Eurovisão da Canção tem perdido em vários países a mística que outrora existia no coração das gentes do Velho Continente.

Muitos entre as gerações mais novas acham a maioria das canções enfadonhas ou demasiado cheesy e vêem, por isso, o concurso como algo obsoleto e ultrapassado. As gerações mais velhas criticam a qualificação automática dos Big Five (Alemanha, Itália, Espanha, França e Reino Unido) e a ausência de grandes vozes, como as que ecoavam nas edições dos “tempos dourados”. A verdade verdadinha é que os artistas, que todos os anos se fazem ouvir por alturas de maio na RTP, não são propriamente os mais talentosos ou célebres que os respectivos países têm em stock.

Mas… e se fossem? Como seria se as melhores bandas e intérpretes de cada país europeu subissem ao palco da Eurovisão? Ao longo desta semana, o Espalha Factos irá além-fronteiras, qual Vasco da Gama, à descoberta daqueles que são os verdadeiros grandes músicos dos 37 países que participam este ano no Festival Eurovisão da Canção. As opções eram muitas e as escolhas são sempre subjectivas, mas estes são para nós a créme de la créme da música europeia.

Devido ao avultado número de países (37!) que participam no certame europeu, esta prospecção aos grandes talentos irá ocorrer ao longo de três artigos. Este é o primeiro.

Alemanha – Scorpions

A história grandiosa da música alemã não deixa certamente ninguém indiferente. Os alemães encantaram na música clássica com Bach, Beethoven ou Wagner, dançaram e fizeram dançar na era disco ao som de Boney M. e Milli Vanilli e são hoje um motor do heavy metal com guitarradas dos Kreator, Helloween ou Sodom. Contudo, é no hard rock que encontramos os grandes Scorpions. A banda de Klaus Meine e companhia vendeu à volta de 100 milhões de álbuns até hoje, por culpa de grandes clássicos como Rock You Like A Hurricane ou Blackout, mas principalmente graças às famosas baladas como Wind of Change, Still Loving You, Always Somewhere ou Send Me An Angel.

Menções honrosas: Kraftwerk, Rammstein e Scooter.

Albânia – Troja

Embora a praia musical da Albânia seja o folclore, os Troja vêm elevando desde 1990 a bandeira do rock, ao ponto de serem hoje em dia a banda mais falada do país. As influências do folk estão, ainda assim, embebidas no som do projecto, algo que torna os Troja diferentes das típicas bandas de rock. Os membros nascidos no Kosovo são uma espécie de Xutos para os albaneses, mas com uma sonoridade mais pesada, depressiva e reivindicativa, facto que já valeu à banda variados prémios nacionais e internacionais, não só pelas canções, mas também pelos videoclips sempre recheados de simbolismo. Exemplo disso, são a canção Mretnesha Kohë e o vídeo de Amaneti i Clownit.

Menções honrosas: Jericho, Ingrid Gjoni e Elvana Gjata.

 http://youtu.be/ZQR5MwDtqFM

Arménia – System of a Down

Pois é, nem toda gente sabe, mas os System of a Down têm raízes na Arménia. Embora apenas Shavo Odadjian seja nascido no país, todos os membros da banda são descendentes de arménios, o que lhes permitiria então participar no Festival da Eurovisão. Os SOAD têm no seu som influências de praticamente tudo o que mexe, tornando as suas músicas em peças únicas, diferentes de tudo o que já foi feito. Após um longo hiato de sete anos, a banda regressou aos palcos no ano passado, deixando em delírio os fãs de malhas como Chop Suey!, B.Y.O.B., Lonely Day ou Toxicity.

Menções honrosas: The Beautified Project, Cher e Arthur Meschian.

Áustria – Opus

É verdade. Existem intérpretes austríacos com um percurso mais coeso do que os errantes Opus. Mas também não é mentira nenhuma que mais ninguém do país de Mozart extravasou fronteiras como o quinteto de Graz o fez. Quando os Opus lançaram Life is Life em 1985, o single depressa sobrevoou os Alpes para fazer dançar toda a Europa e por lá ficou até aos dias de hoje. O assíduo aparecimento de Life is Life em eventos desportivos fez com que a música se tornasse a cara da banda. Ainda assim, existem outras músicas interessantes dos Opus, como por exemplo, Faster and Faster, City of Angels ou a mítica Flyin’ High com a participação de Falco.

Menções honrosas: Christina Stürmer, Summoning e Shesays.

Azerbaijão – Dariush

Rui Veloso dizia em A Paixão que a miúda que foi com ele ao concerto “não fez um esforço para gostar e foi-se embora”. Bem, às vezes por mais esforços que se façam, há coisas que podemos apreciar, mas que dificilmente poderemos gostar a sério. Exemplo disso, é a música de Dariush Eghbali, uma espécie de pai do pop azeri. Digamos que Dariush está para o persian pop do Azerbaijão, como Rui Veloso está para o rock português. Apesar da voz árida e da língua empastada, há que dizer que os instrumentais de Dariush fornecem uma experiência imersiva, completamente distinta de tudo o que é ouvido na Europa propriamente dita. Prova disso são os hits Ey Eshgh, Cheshme Man ou Hasood.

Menções honrosas: Emin, Alim Qasimov e Sirr.

Bélgica – Hooverphonic

Algo engraçado e talvez nunca antes visto seria levar a genialidade do trip-hop ao Festival Eurovisão da Canção, juntamente com meia dúzia de unicórnios cor-de-rosa e uns shots valentes de jägermeister. A magia metafísica que os Hooverphonic vêm espalhando nos quase 20 anos de carreira, valeu à banda um lugar ao sol no rico cenário musical belga, destacando-se juntamente com Lara Fabian e dEUS. Muitas das músicas da banda foram já usadas para filmes e séries, algo que projectou os Hooverphonic além-fronteiras. Canções como 2 Wicky, Amalfi e principalmente Mad About You já conquistaram meia Europa.

Menções honrosas: Technotronic, dEUS e Milow.

Bielorrússia – N.R.M.

Com três letrinhas apenas se escreve o nome da mais rebelde banda bielorrussa. Os N.R.M. são uma banda de rock sediada em Minsk, que tal como muitas outras expressa na sua música o desagrado em relação ao presidente do país. Assim como muitas outras bandas, também eles foram proibidos na rádio, na TV e de tocar ao vivo. Ao contrário de todas as outras, os Niezaležnaja Respublika Mroja (“República Nacional dos Sonhos” em português) continuam a espalhar a sua indignação com muito ritmo e energia, mesmo estando na blacklist do governo. Faixas como a rock ballad Minsk-Mensk ou Try čarapachi (“Três Tartarugas”) são algumas das músicas que deixam o governo bielorrusso com os nervos em franja.

Menções honrosas: Verasy, Stary Olsa e CherryVata.

http://youtu.be/cXV5xJf1OeY

Dinamarca – Volbeat

No Reino da Dinamarca os verdadeiros reis são os Volbeat. Com cinco álbuns lançados, a banda dinamarquesa chegou sempre a ouro no seu país com relativa facilidade. Numa altura em que os sucessos musicais são algo efémeros e rotativos, os Volbeat alistam-se talvez como a maior esperança para o futuro do rock como “banda a recordar daqui a 20 anos”. Na Dinamarca, um país mais virado para o pop (Aqua) e heavy metal (Mercyful Fate), são os Volbeat quem tem dado cartas fora do país com alguns clássicos instantâneos como Still Counting, Heaven Nor Hell, Lola Montez e Fallen. O futuro avizinha-se auspicioso…

Menções honrosas: King Diamond, The Raveonettes e Mew.

Eslovénia – Laibach

No país de Oblak e Zahovič mora um grupo musical com um legado enorme e inovador. Numa altura em que ainda mal se falava na dark wave e na música industrial, já os Laibach misturavam as duas coisas e deixavam a Europa de ouvidos a estalar. Parte do sucesso dos Rammstein é ainda actualmente atribuído às influências que os germânicos beberam do grupo esloveno, como as teclas proeminentes, o jogo de luzes e a pirotecnia sempre a rebentar. Depois de mais de 30 anos de forrobodó, os Laibach continuam de pedra e cal a destilar hits como The Whistleblowers e Tanz Mit Laibach.

Menções honrosas: Dj Umek, Perpetuum Jazzile e Siddharta.

Espanha – Alejandro Sanz

Está longe de ser caso único globalmente, mas a carreira de Alejandro Sanz acaba por se demarcar de forma vincada de Espanha. De certa forma, o cantor espanhol é apenas associado aos nuestros hermanos por ser o seu país natal. O caminho para o sucesso de Sanz faz-se em crescendo. 1991 marca o ano da assinatura com a Warner e quatro anos mais tarde o primeiro grande sucesso do cantor: “Corazon Partio” é a marca mais notável do cantor que, por essa altura, se assumia um romântico. No virar do século, um dueto com os The Corrs afasta-o definitivamente da Península Ibérica. Ao lado de Shakira, na altura ainda sem Pique pelo meio, lança “La Tortura”. Número um em vários países da Europa e da América Latina, Alejandro Sanz assume desde então o pop como estilo de eleição, justamente, o mais comum na Eurovisão.

Menções honrosas: Mägo de Oz, La Oreja de Van Gogh e Enrique Iglesias.

Estónia – Kerli

Bem-vindos ao mundo encantado da música estónia. Aqui junto ao Báltico podem ouvir com Arvo Pärt aquilo que melhor se faz na música clássica, o rock alternativo com energia ilimitada dos Agent M e até folk metal com os Metsatöll. Contudo, é no pop que encontramos a verdadeira galinha dos ovos de ouro da Estónia. Kerli iniciou-se pelo rock alternativo, mas rapidamente abandonou as andanças mais pesadas para se tornar a diva das tabelas de vendas europeias. Aos 27 anos, a estónia viu já algumas cantoras conceituadas, como Tarja Turunen e Demi Lovato, fazerem versões de canções suas e teve algumas músicas em filmes de renome, como foi o caso de Strange e da bombástica Tea Party, ambas em Almost Alice.

Menções honrosas: Arvo Pärt, Agent M e Ewert and The Two Dragons.

Finlândia – Nightwish

A Finlândia não é apenas o país dos mil lagos, também é o paraíso para qualquer metaleiro que se preze. Só no jardim de Éden do metal é que é possível aos Volbeat, aos Children of Bodom ou aos Nightwish dominarem as tabelas de vendas. Estes últimos juntam ao sucesso interno uma euforia quase histérica por todos os sítios onde tocam. Ao todo, os Nightwish venderam já mais de 8 milhões de álbuns, o que faz com que a banda de Tuomas Holopainen seja a banda finlandesa mais lucrativa de sempre. O que é curioso é que os Nightwish já tentaram ir à Eurovisão com a canção Sleepwalker, mas terminaram em segundo lugar no concurso nacional. Se tivessem tentado com Amaranth, Nemo ou Wish I Had An Angel, o resultado teria sido bem diferente…

Menções honrosas: HIM, Children of Bodom e The Rasmus.

http://youtu.be/5g8ykQLYnX0

O Espalha-Factos acompanha, na próxima terça-feira e no sábado, a primeira semifinal e a final do Festival da Eurovisão com um evento especial em que iremos assistir ao espectáculo em conjunto com todos os que quiserem aparecer, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Fica a conhecer o evento e confirma presença!